#3 - Conexão Mitologia: Lugh e Leão

 

[Palavras do Dalone: como verão, essa matéria não foi escrita por mim, apenas revisada. Mantive a estrutura do texto que o Luiz criou e estou passando a vocês esse ótimo material para a Conexão Mitologia. Manterei as análises que faço do meu jeito, e o Luiz fará as dele do jeito dele, e se mais alguém quiser escrever uma matéria, só me contatar que terei prazer em ouvir suas idéias.]

 

Saudações, caros canvetes *_*

 

Primeiro, me apresentando: meu nome é Luiz Ricardo (mas podem me chamar só de Luiz) e ontem, conversando com o admin da página Quartel Canvete (Dalone!), falei pra ele sobre as interessantes conexões, inspirações ou até mesmo felizes coincidências, quem sabe, entre Regulus, o jovem leão de Lost Canvas, e Lugh, deidade celta que preside o sol, as colheitas e todos os ofícios. Além disto, mencionei também a ligação da história do Regulus com o filme “O Rei Leão”, e sua conexão com o mito universal do deus sol sacrificado, que depois volta reencarnado ou não através do seu filho – tal como no hemisfério norte, o sol deixa de brilhar com força durante metade do ano e depois volta com força na outra metade. Então vamos lá, abram suas mentes e vamos ver esta história melhor.

 

Lugh, o de mil talentos:

 

Quem conhece um pouco de mitologia celta, sobretudo a dos povos da Irlanda ou Grã Bretanha, já ouviu falar deste deus. Lugh seria mais ou menos parecido com o deus Apolo da mitologia grega que coincidentemente rege o signo de Leão na astrologia, e em seus mitos, ele aparece como o senhor de mil ofícios e talentos. Tal deus é, ao mesmo tempo: guerreiro, ferreiro, ourives, bardo, músico, caldeireiro, druida, feiticeiro, lavrador, exímio enxadrista, entre outros ofícios. Como visto em Lost Canvas, ele era neto de Balor, o senhor do olho maléfico, e o derrotou, tendo se tornado um herói para o povo de Danu (Thuata de Danan), as ligações que vejo entre Lugh e Regulus são as seguintes:

 

1 - Lugh era um deus sol, e o sol na astrologia é o regente do signo de Leão.

 

2 - Lugh era um deus brilhante e genial, Regulus também era. Embora tenha sido somente um guerreiro, vemos muito claramente o quão fácil Regulus aprendia as coisas, tanto que ao final do mangá, quando todos os cavaleiros de ouro apareceram, o jovem cavaleiro diz "Pelas possibilidades", acho que não preciso dizer mais nada.

 

3 - Lugh era homenageado num antigo festival (ainda hoje celebrado, diga-se de passagem) chamado Lughnasad ou Lammas. Este festival celebrava a primeira colheita, e era o momento que os antigos povos comemoravam o sacrifício que o deus sol fazia (algumas vezes não era sacrifício, era assassinato mesmo) em benefício ao seu povo, fornecendo alimento e sustento. Tal festival ocorria em Agosto, momento que o sol se encontra no signo de Leão, animal este que sempre esteve ligado ao mitema dos reis divinos que morriam e depois retornavam, tal qual o sol que também "morria" trazendo o inverno, mas também o sustento pra esta época difícil, e depois voltava trazendo o verão, mitema este que também aparece na história de Regulus e Ilias, que falarei a seguir.

 

Lugh destruindo Balor com sua espada Brionac

 

Ilias, o Rei Leão, o deus sol sacrificado e Regulus, o "filho da promessa":

 

Estudando mitologia comparada e as velhas tradições pagãs, veremos uma série de histórias semelhantes que podem tanto ser devido ao encontro de diferentes culturas através do tempo, quanto também devido a aquilo que Jung chama de "Inconsciente Coletivo" ou então "Tradição Perene" como diria René Guenon, e uma destas tradições é o mito do deus que morre assassinado ou se sacrificando pelo bem ou salvação do povo, e depois volta da morte cumprindo uma profecia que num contexto astrológico simboliza o caminho do sol pela roda das constelações do Zodíaco, e tal mitema vemos em alguns mitos como os seguintes abaixo:

 

1 – Nimrode, que ao morrer "renasce" (ao menos segundo a tradição) em seu filho Tammuz, sendo Nimrode o criador da Torre de Babel e Tammuz seu filho adorado como sua reencarnação, sua nova forma e também como deus da vegetação (lembrando que estes povos vivendo num lugar bem quente, naturalmente veriam o sol como o provedor da vida).

 

2 – Mitra, que morre também e depois retorna (não através de seu filho, mas sim com seu corpo mesmo), tendo sido morto por um touro gigante.

 

3 – Dianos, que na mitologia romana (este não é um deus grego, tendo sido assimilado por Roma a partir de outra cultura) é o deus sol esposo de Diana, a senhora da natureza, que ao morrer flechado no auge do solstício de verão (justamente Agosto) e engravida sua esposa no Submundo (que nem no mito de Inanna na Suméria!), posteriormente "retornando" como seu filho Lupercus, um jovem deus solar ligado aos lobos.

 

4 - Até mesmo Jesus Cristo, que era chamado de LEÃO da Tribo de Judah, sendo ele um exemplo de deidade que morre e depois retorna, até hoje tendo devotos crêem em sua promessa de uma segunda vinda.

 

Todos os mitos citados serviram de inspiração pra história do filme "O Rei Leão", da Disney, ainda que talvez nem mesmo os roteiristas tenham se ligado nisto (coisa que não acredito) e digam que a inspiração vêm de Shakespeare, através da história do Rei Lear (que TAMBÉM tem seu pé na mitologia celta, diga-se). Analisando Ilias, o vemos como um claro exemplo de "rei" entre os cavaleiros de ouro: o mais brilhante, visto como um herói, tal qual os deuses acima também eram. Tal "rei leão" também passa a definhar devido a sua doença e termina por ser assassinado buscando a salvação de seu filho Regulus, mas não sem antes tratar de passar a ele seu legado, sua vontade por assim dizer. Ilias, no Gaiden do Sísifo, sabia que ele voltaria numa nova forma, e assim ele cumpre sua palavra e Regulus, o jovem leão, aparece no santuário, se torna um cavaleiro de ouro e teve como sua primeira provação uma luta épica contra Balor, ajudado misteriosamente por Lugh – que NÃO, não reencarnou no Regulus, mas sim o escolheu, quem sabe por ambos terem a mesma luz, a mesma estrela, enfim... mistérios.

 

Outra conexão que aqui faço com a figura do Leão vem do filme/livro "As Crônicas de Nárnia - O Leão, A Feiticeira e o Guarda Roupa". Nele temos Aslan, o grande leão, filho do imperador de "além mar", que morre e ressuscita trazendo paralelos com a história de Jesus, que também morre e ressuscita como o "Leão de Judá."

 

Regulus e sua visão além do alcance

 

Considerações finais:

 

O sol, em determinados lugares, era visto como um grande olho que tudo enxerga, tanto que na Grécia o Oráculo de Delfos era regido por Apolo, que falava através das Pitias – que em Lost Canvas aparecem no Gaiden de Sísifo através de Arkhes, cujos símbolos foram o lobo (lembra Lupercus) e o Cervo (lembra Dianos), numa clara referência a dualidade da natureza, ora mansa (cervo), ora furiosa (lobo). Ilias, se olharmos bem, já conhecia e se comunicava com as Pitias e, tal como elas, também "via tudo", enxergava além do óbvio, além de saber manipular a natureza de maneira assustadora, mantendo sempre uma calmaria temerosa. E se lembrarmos que o leão é o rei das feras e o sol é o rei da natureza, Ilias encarnava bem este papel como um "rei" dentro do santuário e Regulus, como filho da promessa, herdou de seus pais os mesmos olhos que tudo vêem (ou que vêem além) e deram a ele a vitória contra Balor em seu Gaiden.

 

Por fim, deixo claro que não estou dizendo que Jesus é igual a qualquer deidade pagã por aí, apenas citei as inspirações e elementos em comum, e como isso se relaciona com a história de Regulus e Ilias, beleza?

 

Pois então é isso, galera. Espero que tenham gostado e se não gostarem digam onde posso melhorar e verei o que posso fazer da próxima vez. Enfim meu povo, até a próxima.

 

Para saber um pouco mais sobre o Gaiden do Regulus e a mitologia celta, visite: #10 - Análise dos Gaiden: Regulus

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