#9 - Conexão Mitologia: Tezcatlipoca e Quetzalcoatl

No Gaiden do Kardia, Shiori introduziu a mitologia asteca, e você pode ler um pouco mais sobre esse Gaiden aqui: #05 - Análise dos Gaiden: Kardia. Já essa conexão mitologia será para falar mais sobre os deuses astecas, Tezcatlipoca (o meu favorito) e Quetzalcoatl. Bom, vamos lá!

O Espelho Fumegante:

Tezcatlipoca é um dos maiores deuses astecas (fazendo parte da trindade do panteão), sendo ele a divindade do céu noturno, da lua e das estrelas; senhor do fogo e da morte. Ele é o patrono dos soldados jaguares (uma espécie de tropa de elite asteca), também representado como deus jaguar e seu nome significa "Senhor do Espelho Fumegante", em alusão ao espelho negro que carrega em seu pescoço e que lhe permite ver o que se passa em qualquer parte do mundo.

No mito asteca, Tezcatlipca era uma divindade solar que se sacirificou (junto a outros deuses) para salvar o universo. Após retornar à vida (isso eu realmente não sei como se sucedeu), Tezcatlipoca se tornou uma das deidades mais malignas, temidas e adoradas pelos astecas. Ele era tido como o deus do mal asteca, mas também muito respeitado pelos soldados, sendo ele o antagonista de Quetzalcoatl. Um detalhe interessante sobre Tezcatlipoca: ele perdeu sua perna esquerda e a substituiu por uma prótese de fumaça.

A Serpente Emplumada:

Quetzalcoatl é a divindade suprema do panteão asteca, parte da referida trindade e também indentificado como o grande herói dessa mitologia - sendo ele o deus do vento e senhor da luz. A serpente com asas que lhe é atribuída (seu nome significa "Serpente Emplumada") representa espírito (serpente) e corpo (pássaro).

É dito que Quetzalcoatl veio do mar como um homem caucasiano de longos cabelos e barba, e que ele está destinado a se sacrificar (tal qual Jesus Cristo) para que o povo da Terra possa viver. Quetzalcoatl representa as energias telúricas que ascendem, daí a sua representação como uma serpente emplumada. Neste sentido, representa a vida, a abundância da vegetação, o alimento físico e espiritual para o povo que a cultua ou o indivíduo que tenta uma ascensão espiritual.

Quetzalcoatl e Tezcatlipoca

Wesda, o Sacerdote do Sol:

Wesda representa Tezcatlipoca na história. Podemos ver isso já em seu visual: quando ele aparece, inicialmente vemos uma cabeça de jaguar negro, logo depois percebendo se tratar de um chapéu; além disso, Wesda usa em seu pescoço o espelho negro de Tezcatlipoca (sua relíquia mais preciosa e símbolo de seu poder). Ele também usa roupas padronizadas em preto, e até mesmo a nahual de Tezcatlipoca é inteiramente negra, representando a noite, a morte e a escuridão. Seus poderes também demonstram sua aptidão: ele tinha ataques de fogo, as próprias chamas solares. Visualmente falando, há várias indicações de que Wesda é Tezcatlipoca.

Também devemos considerar que é Wesda quem primeiro cita o deus asteca maligno, e deseja consagrar o coração de Kardia a ele. Porém, quando o combate final se inicia, o próprio Wesda usa a nahual de Tezcatlipoca e começa a sugar o poder de Kardia (que seria seu sacrifício) para si mesmo. Como também é o comandante dos Guerreiros Jaguar, podemos deduzir que ele era uma figura de destaque para seu povo. Aqui já podemos perceber indicações na história que confirmam a hipótese levantada, além de fazer mais paralelos mitológicos.

Calvera, a dona do bar:

Quando Calvera surge na história, ela é apenas a dona de um bar, porém já no primeiro capítulo é sequestrada pelos Guerreiros Jaguar e salva por Kardia, demonstrando não ser uma pessoa qualquer. De fato, ela é, na verdade, a representante de Quetzalcoatl na histórica. Quando Wesda a hipnotiza, Calvera surge com uma roupa inteiramente branca e que mistura escamas com plumas. Na verdade, até mesmo os cabelos de Calvera se tornam brancos em determinado momento, e voltam a ficar negros após ela usar os poderes de Quetzalcoatl para trazer Kardia de volta à vida.

Podemos entender então, em seu visual inteiramente branco, o paralelo com a Serpente Emplumada: além de escamas (serpente) e plumas (pássaro), a cor branca representa o Espírito, enquanto a própria Calvera representa o corpo. E ao sacrificar seus poderes para salvar Kardia, podemos ver, em escala reduzida, o sacrifício de Quetzalcoatl pela humanidade. Aliás, há de se destacar que quando Calvera salva Kardia, o próprio Quetzalcoatl (em sua forma de serpente com asas) se manifesta junto a ela.

Wesda e Calvera

Quetzalcoatl e Tezcatlipoca, Athena e Hades:

Um paralelo interessante que surge, e até mesmo natural, é entre Quetzalcoatl e Tezcatlipoca como Athena e Hades. Primeiramente, temos dois deuses bondosos contra dois deuses malignos, e em ambos os casos o prêmio é evidente: o destino da Terra e da humanidade. Até mesmo os objetivos são parecidos: Quetzalcoatl e Athena desejam proteger a vida na Terra (que poderia ser erradicada pela maldade humana), enquanto Tezcatlipoca e Hades querem exterminar os humanos e condenar o mundo à escuridão eterna, criando assim uma "nova era".

Além disso, Wesda hipnotiza Calvera para que se case com ele, pois precisa dela ao seu lado. Isso automaticamente me lembrou de Julian Solo e Saori, porém não podemos esquecer que em THE LOST CANVAS Hades e Athena também são ligados por laços familiares: não são marido e mulher, porém são irmãos. De certa forma, nos dois casais há um plano: Wesda quer o poder de Calvera para seus fins nefastos; Sasha quer atrapalhar os planos de Hades através do amor que daria a seu irmão. O amor acaba sendo mostrado como algo poderoso, que pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal.

Tezcatlipoca versus Quetzalcoatl

Bônus: Youaltepuztli:

Youaltepuztli significa "Machado da Noite" em Nahuatl (a língua asteca) e é dito que Tezcatlipoca ocasionalmente se manifestava como essa criatura com aparência de um lagarto monstruoso. Em matéria de paralelismo, poderíamos dizer que na versão de Shiori Youaltepuztli não era uma forma de Tezcatlipoca propriamente dito, mas sim seu mais poderoso servo, aquele enviado em nome do deus para coletar peles.

Nahualpili de Youaltepuztli

Então,  que acharam? Bom, é isso aí, pessoal!

Aproveitando a oportunidade, há uns anos eu escrevi uma história sobre deuses astecas promovendo o apocalipse nos dias atuais, e podem lê-la completa e inteiramente de graça aqui: O Triunfo do Mal (basta clicar em índice e começar a ler).

Até a próxima, galera! :D