#12 - Reencarnação

 

Motivado pelas pesquisas sobre budismo para a análise do Gaiden do Asmita (o estudo continua, aliás, estou adorando), comecei a pensar nas ressurreições dos personagens de LC como os personagens do Clássico. Alguns são óbvios, como Sasha e Saori, Tenma e Seiya. Já outros, como os Golds, isso sempre foi indicado (e na minha opinião confirmado no final), mas é uma dúvida que todos têm. Bom, eu comecei a perceber algumas coisas que indicam que Shiori criou seus personagens de forma a se tornarem os do Clássico.

 

Análise feita com ajuda do meu amigão Lucas Saguita.

 

Para analisarmos essa questão temos que ter em mente dois conceitos: karma e visão divina. Karma bom atrai coisas boas, karma ruim atrai coisas ruins. Básico do budismo (e sério, tem MUITA influência do budismo em CDZ, não apenas nos Virginianos), mas nós temos que analisar isso do ponto de vista dos deuses, o que eles consideram bom ou ruim. Isso porque na mitologia grega eram os deuses quem decidiam o destino dos homens antes mesmo de seu nascimento. Podemos aplicar essa lógica a CDZ, tendo Zeus, um deus desaparecido, mas capaz de alterar o destino até mesmo de outros deuses, como veremos.

 

Vamos começar pelos Golds, ignorando Shion e Dohko, que não reencarnaram.

 

Hasgard/Aldebaran: Hasgard é um paizão, um homem bom e gentil que procurou se redimir do seu erro com Ilias ainda em vida adotando seus discípulos como se fossem filhos. Mais do que isso, ele tratou um inimigo com piedade, no caso Kagaho. Vendo que o Espectro não era uma pessoa ruim, tentou mostrá-lo o erro e sua forma de viver. Isso é karma bom. E karma bom atrai mais karma bom. Aldebaran também era um homem bom, portanto. Até mostrou esse tipo de comportamento mais paterno, se pensarem em como ele queria ajudar os Bronze Boys, não derrotá-los.

 

Ambos morreram lutando, mas isso é decorrência da guerra. Aldebaran, inclusive, foi morto de forma covarde, mas demonstrou sua força ao matar seu oponente mesmo sem condições de vitória. Podemos entender que como conseguiu um karma bom como Hasgard, Aldebaran teve uma vida boa e justa como Santo de Athena.

 

Aspros e Defteros/Saga e Kanon: ah, esse vai ser polêmico! Primeiro Aspros, o irmãos mais velho. Ele era uma boa criança que foi corrompida por Youma e fez muitas coisas malignas: controlou seu irmão gêmeo, tentou matar o Papa, atentou contra os deuses, matou o deus do tempo Kairos, voltou a vida, burlando a ordem natural das coisas. Um verdadeiro criminoso.

 

Já Defteros é tido como um herói, mas veja do ponto de vista divino: ele era egoísta e invejoso, invejava Aspros e queria para si o posto de Santo de Gêmeos. Também cometeu fratricídio, ainda que por uma boa causa. Mas como de boa intenção o inferno está cheio...

 

Saga era a boa pessoa corrompida. Ele se corrompeu e se redimiu novamente, assim como havia feito uma vez como Aspros, para pagar por tudo que havia feito. Atenham-se ao fato de que até o final o Aspros estava dizendo "Por mim", enquanto no fim Saga estava dizendo "Por Athena", podemos então entender que ele finalmente entendeu seus erros e se tornou o que deveria ser. Pagou pelos seus crimes e conseguiu um karma bom.

 

Já Kanon era maligno desde o começo. Por que, se Defteros era bom? Porque ele matou seu irmãos. Cain e Abel, basicamente. Cain teve de pagar pelo seu crime, da mesma forma que Defteros pagou. Ele deu sua vida para que seu irmão voltasse a viver, mas estamos analisando aqui como se fossemos deuses, lembram? Os deuses não costumam ser lá muito justos. Quando Saga aprisionou Kanon no Cabo Sunion, podemos entender ali como uma morte simbólica: Kanon não morreu apenas por ter sido salvo por Athena. E lembre-se, se você mata alguém em uma vida, será assassinado por aquela pessoa em outra. Kanon também se redime de seu egoísmo e inveja, lutando por Athena na saga de Hades e até mesmo devolvendo a armadura de Gêmeos para o irmão.

 

Manigold/Máscara da Morte: o primeiro Santo que pensei nessas ligações entre LC e Clássico, e me fez entender a parada toda. Sempre vejo a pergunta "Por que Manigold se tornaria alguém tão maligno quanto MdM?" Eu entendo que, analisando do ponto de vista de um deus, Manigold cometeu o PIOR crime de todos: feriu um deus. E não foi um deus menor, como os deuses dos sonhos, foi o todo poderoso Thanatos, deus da morte. Então olhem isso agora: Manigold terminou o mangá ligado mais à vida que à morte, certo? Enquanto MdM era totalmente ligado à morte, chegando a colecionar cabeças. Além disso, foi renegado por sua armadura Dourada (que o protegeu até o fim como Manigold) e derrotado de forma humilhante por Shiryu, Mu e Radamanthys. Podemos dizer que Manigold pagou o karma ruim que atraiu ao socar uma deídade sofrendo tudo o que tinha de sofrer.

 

Aiolia/Regulus: Regulus era alguém que não entendia os sentimentos das pessoas, ele vivia apenas para lutar - como uma criança super-poderosa seria, aliás. Já Aiolia não era assim, ele sofria por causa de seu falecido irmão. Quando analiso os dois, duas coisas me surgem: 1 - Aiolia perdeu Aiolis; Sísifo perdeu Ilias. Sim, Sísifo e Ilias, acalmem-se que explico. 2 - Quando Sísifo morreu, Regulus, seu sobrinho, não se manifestou ou sofreu, porque ele não entendia a gravidade da situação. A única coisa que o deixava triste era a morte de seu pai.

 

Quando no fim de sua vida, antes de voltar à vida para enfrentar o mal uma última vez, Regulus encontra Sísifo e esses dois conversam. Sísifo mostra claramente que sente falta de Ilias, e só ali, ao entender o que seriam os sentimentos, Regulus não apenas sofre por seu tio, como também finalmente entende todas as lições do pai. Nas regras da reencarnação, pessoas sempre reencarnam como membros da mesma família, mas com relações sanguíneas diferentes (pai e filho numa vida, irmãos em outra, primos numa terceira etc.), e quando reencarna como Aiolia, Regulus, que havia conseguido um karma bom, se torna alguém capaz de entender os sentimentos das outras pessoas e até mesmo sofrer por elas. Infelizmente, Regulus era um menino humilde e se tornou um homem arrogante na vida seguinte, mas na próxima reencarnação ele paga por isso...

 

Asmita/Shaka: esse é o mais difícil. A primeira coisa que percebo é como Asmita é humilde, enquanto Shaka nem parece um budista, sendo arrogante ao extremo, o Santo de Ouro mais arrogante do Clássico, na minha opinião. Mas eu reparei em uma determinada situação envolvendo Hades... Asmita elevou seu Cosmo ao oitavo sentido e entregou sua vida para superar o poder de Hades e criar o Rosário que selaria a imortalidade dos Espectros. Superar um deus, na visão divina, mesmo que por um segundo, certamente seria considerado um crime imperdoável. Shaka morre contra Saga, Kamus e Shura para poder ir diretamente ao inferno enfrentar Hades. Chegando lá o que acontece? Sim, ele paga por seu crime em vida passada: seu esforço é inútil perante o deus dos mortos. Mas ele não é aniquilado, ele continua existindo, para não apenas falhar, mas também ver os resultados de sua fraqueza. Ele não paga com a destruição de seu caráter, e sim com a exposição de sua falha humana. Nossa, como esses deuses são ruins!

 

Kardia/Milo: rápido aqui: Kardia não se importava com nada além de sua própria vida. Ele não lutava por Athena ou o santuário, apenas para ter uma grande e empolgante luta, seguido por uma morte gloriosa. Mas no fim de sua vida ele se redimiu, salvando Unity para que o Santuário tivesse uma chance. Isso é karma bom. E ele não fez nada contra os deuses, nenhum pecado muito grande... Por isso, como Milo, ele se tornou o juiz do Santuário, sempre preocupado com as regras e com fazer o que é certo, punindo os maus e condenando os criminosos. Uma mudança proveniente do karma bom.

 

Sísifo/Aiolos: Sísifo é outro grande pecador, ele se apaixonou por Athena, uma deusa! Ele até a cobiçava, isso ficou muito claro. (Hey, ele não ganhou o apelido de Pedosísifo a toa!) Burlou a morte duas vezes, atacou Hades/Alone duas vezes... esse cara tava mesmo querendo despertar a ira dos deuses, hehe! Na mitologia grega, Sísifo recebeu uma grande punição por ter enganado os deuses duas vezes e burlado a morte duas vezes, bem como o nosso Sísifo fez. Então como Aiolos, ele foi punido com a pior sentença que o apaixonado Sísifo poderia ter: mesmo salvando Athena, não conseguiu vê-la crescer e se tornar a deusa da guerra, estar ao lado dela, protegê-la. E ainda foi declarado traidor e acusado de tentar assassiná-la. Poxa, fiquei com pena dele agora, sério...

 

El Cid/Shura: esse é outro caso confuso e difícil, mas vamos lá, farei o meu melhor! \o/ Bom, El Cid era o melhor amigo de Sísifo, ele queria ser apenas uma espada, era um soldado perfeito. Mas como me foi apontado pelo Lucas, El Cid idolatrava Sísifo, chegando ao ponto de morrer em missão por ele. Mas só os deuses são dignos de idolatria, sabemos disso. Com esse karma ruim, foi condenado a matar seu melhor amigo na vida seguinte e se orgulhar disso!

 

Dégel/Kamus: com esses dois só consegui pensar em uma coisa: como Dégel se deixava constantemente levar pelos seus sentimentos, como Kamus ele se tornou o oposto (isso também acontece nas regras da reencarnação: se você tem uma característica exagerada, você compensa na vida seguinte sendo o oposto. Também é válido para questões de bem/mal, como no caso do Manigold, por exemplo), não sendo levado por seus sentimentos, nem mesmo quando estava enfrentando seu querido discípulo.

 

Albafica/Afrodite: com essa dupla é simples, mas foi um dos que achei mais interessante, viu... Albafica, podemos perceber isso claramente, repudiava a beleza que os deuses lhe deram. Sim, ele não se orgulha de sua beleza como Afrodite fazia. Tanto que ele jamais citou ser o mais belo (embora isso tenha sido dito por outros) e não se abalou com as ofensas de Minos quanto à sua aparência. Mas renegar as bençãos divinas é um pecado: por isso, como Afrodite, ele é condenado, tal como Narciso, a se amar e se admirar acima de todas as coisas. Isso é quase uma piada divina...

 

Agora os demais personagens, começando por ela, a grande...

 

Sasha/Saori: Sasha, ao meu ver como deus da análise temporário, cometeu um pecado perante os outros deuses: ela nasceu como humana e, para piorar, era uma pessoa extremamente humilde. Por que isso é um pecado? Porque com isso ela expõe a falha de caráter dos outros deuses, tão arrogantes e inumanos. Como Saori, vejam bem, ela era extremamente arrogante. Isso até se dar conta de quem era, até se lembrar de quem foi no passado. Como uma deusa, ela está apta a sobrepujar o destino que os demais deuses lhe impuseram, e ela volta a ser uma divindade humilde (nos padrões do Kurumada, mas enfim...).

 

Pégaso/Tenma/Seiya: Para mim, Seiya não paga por nada que Tenma tenha feito. Ambos pagam pelo que fizeram antes mesmo disso, quando o primeiro Pégaso feriu Hades e se pôs como uma barreira entre os deuses e Athena. Sério, nem precisa falar mais nada.

 

Alone/Shun: Alone foi o grande pecador de LC! Ele enganou deuses e humanos, assumiu a Guerra Santa, atentou contra a humanidade, usurpou o poder de Hades, tramou a destruição de seus próprios asseclas, assassinou milhares de pessoas... ê, bicho ruim! Agora, como Shun, aí a coisa muda de figura, né! Alone, no fim da vida, entende que estava errado e até se une aos amigos contra Hades. Mas ele atraiu tanto karma ruim, mas tanto karma ruim, que foi condenado a ser uma pessoa boa. Sim, Shun é tão bom que sofre com isso, sempre apanhando de todos e sendo resgatado por Ikki, além de sofrer por ver a dor alheia e não poder fazer nada. Ele está constantemente pagando por seus erros passados.

 

Além disso, novamente ele se tornou o receptáculo de Hades. Ao meu ver, essa é a forma dos deuses dizerem: você não pode fugir do seu destino, se determinamos que você é o receptáculo de Hades, então você será e ponto final!

 

Kagaho/Ikki: Kagaho foi condenado a repetir os mesmos erros, até onde posso ver. Ele teve uma pessoa que amava morta para se tornar o catalizador de sua força (Sui e Esmeralda) e protegeu o receptáculo de Hades (Alone e Shun). Mas eu vejo uma coisa diferente: mesmo repetindo esses atos, Ikki é uma evolução de Kagaho, uma vez que ele não desperdiçava sua vida com suas próprias chamas ou não se importava de morrer por nada (a vida é o dom mais precioso que os deuses concedem aos humanos, e Kagaho simplesmente não ligava para a sua). Ele quer viver e luta por isso. É uma grande evolução moral e a forma de pagar pelo comportamento errado da vida passada.

 

Pandora/Pandora: Pandora LC estava farta de ser manipulada pelos deuses, tendo perdido tudo o que tinha. Voltou-se contra Alone e tentou matá-lo, uma vez que ele não era o verdadeiro Hades. Como Pandora Clássica, novamente ela perde tudo por causa dos joguetes dos deuses, mas em compensação ela se livra da manipulação: mesmo morrendo, dá a Ikki seu colar para que ele possa ir aos Elíseos. Ali é a evolução final da personagem, quando ela finalmente se torna quem ela queria ser (e só precisou de duas vidas pra fazer isso, bobagem). Uma coisa curiosa é como Kagaho mostra o caminho para Pandora, e na vida seguinte ela agradece mostrando o caminho a Ikki. Chega a ser poético.

 

Bom, isso é um pouquinho do que eu penso, sobre karma bom e ruim, sobre os deuses manipulando os humanos e decidindo seus destinos, e como esses personagens tiveram suas vidas posteriores traçadas com os seus feitos em LC. Obviamente que considero que Shiori criou seus personagens para casar com os do Clássico nesse aspecto, mas não há confirmação, é só expeculação.

 

Espero que gostem e até a próxima! :)

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